sexta-feira, 29 de setembro de 2017

Apenas 31% dos homens brasileiros se previnem contra gravidez indesejada e DSTs


Na hora em que um casal decide fazer sexo, há duas preocupações principais que passam pela cabeça de ambos: risco de uma gravidez indesejada e da transmissão de doenças sexualmente transmissíveis, as chamadas DSTs. Em pesquisa divulgada nesta terça-feira (26), 72% dos brasileiros afirmaram que a responsabilidade pela contracepção e prevenção das doenças é do casal, mas nem tudo são flores: a mesma pesquisa indica que apenas 31% dos homens se previnem contra esses mesmos problemas.

No levantamento, feito pela farmacêutica Bayer, com apoio do Departamento de Ginecologia da Escola Paulista de Medicina da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), foram ouvidos dois mil homens de 15 a 25 anos em dez capitais brasileiras: Belém, Belo Horizonte, Brasília, Curitiba, Goiânia, Porto Alegre, Recife, Rio de Janeiro, Salvador e São Paulo. A situação é mais preocupante se levarmos em consideração o aumentos das DSTs nos últimos anos.

Em 2015, por exemplo, mais de 39 mil homens foram diagnosticados com sífilis e 22,4 mil com Aids, segundo o Ministério da Saúde. O uso correto da camisinha já seria suficiente para evitar esses problemas, mas 16% dos entrevistados alegaram não querer “estragar a diversão” parando o ato para colocar o preservativo. Outros 12% disseram que já deixaram de se proteger por não ter nenhum método contraceptivo na hora da relação, 11% por simplesmente se esquecer, 10% “decidiram se arriscar” e 9% estavam alcoolizados ou sob efeito de drogas durante a relação.


Uso de métodos contraceptivos

Mesmo que 72% dos brasileiros consideram responsabilidade do casal a contracepção e a prevenção de DSTs, apenas 55% dos entrevistados na pesquisa consideram que falar abertamente sobre o assunto é normal. E além de muitos não falarem com as parceiras sobre o assunto, também não falam com profissionais capacitados sobre o tema, já que 38% afirmaram que aprenderam sobre sexo e métodos contraceptivos com amigos e pela internet. Além disso, 60% dos homens entrevistados revelaram que quando têm alguma dúvida sobre sexo a primeira opção para sanar essa dúvida é sempre a internet. Apenas 5% procuram a ajuda de profissionais de saúde, que são os mais capacitados a falar sobre o tema.

O maior problema disso são as informações erradas que podem surgir. O ginecologista e obstetra canadense Dustin Costescu, da McMaster University e que trabalha com contracepção de alta complexidade, parabeniza os jovens pela iniciativa de buscar informação, mas alerta que se um amigo aprendeu errado sobre como se prevenir de uma DST, por exemplo, não tem ninguém aprendendo com a conversa. Além disso, quando o assunto é internet, as chamadas fake news, que são as informações falsas espalhadas nas redes sociais ou por sites não confiáveis, são um grande problema.

Também presente no evento em que os resultados da pesquisa foram divulgados, a sexóloga e educadora sexual Laura Muller explica que o importante na hora de procurar informações na internet – e isso também em relação a qualquer assinto – é buscar por instituições de confiança, profissionais que validem a informação que está sendo passada e veículos de confiança também. Não dá para acreditar em tudo que é compartilhada nas redes sociais.


“Falta glamour na camisinha”

Na última sexta-feira (22), o Estado de São Paulo anunciou que atingiu seu menor índice de gravidez na adolescência. Se compararmos os dados de 1998 e 2016 em relação a meninas entre 10 e 14 anos gravidas, é possível notar uma redução de 40% no número de gestantes nesta faixa etária. Já na adolescência como um todo, a redução foi maior ainda, chegando a 46%.

Dra. Albertina Duarte Takiuti, coordenadora do Programa Estadual do Adolescente da Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo, entretanto, vê com preocupação o fato do Estado ainda registrar o nascimento de um bebê a cada três horas e 25 minutos por crianças e adolescentes entre 10 e 14 anos.

Para ela, um dos problemas quando o assunto é gravidez indesejada, além da falta de educação sexual, é que falta “glamour” no uso da camisinha.“Não é falta de informação, é falta de segurança. Em pesquisa feita no ano de 1995, descobrimos que logo após a primeira relação sexual o sentimento para as mulheres era de medo em não ter agradado, enquanto para os homens era medo de ter falhado. E isso continua hoje.”

Para a especialista, se os brasileiros passassem a se sentir mais seguros e potentes usando a camisinha, com certeza os números de gravidez indesejada e DSTs passariam a diminuir. Albertina afirma ainda que falta incentivo no uso da camisinha. Ela brinca que se um jogador de futebol famoso ou um galã viesse a público dizer que usa, sim, o preservativo na hora do sexo, no dia seguinte, os homens já estariam mudando sua relação com o produto – se tornariam verdadeiros fãs. Infelizmente, o preservativo ainda hoje é visto como empecilho na hora sexo.


Pesquisa

O levantamento realizado pela farmacêutica Bayer e a Unifesp no dia 31 de agosto deste ano também indica que os porto-alegrenses e os curitibanos são os que mais se preocupam com as doenças sexualmente transmissíveis, entretanto, puxão de orelha para estes mesmos brasileiros: apenas 4% deles usam a camisinha em todas as relações sexuais. Bem diferente dos goianos, os maiores fãs do preservativo.

Já os mineiros têm um pensamento diferente da maioria dos brasileiros. Para 77% deles, a responsabilidade pela contracepção é do homem, e apenas 4% acreditam que é um cuidado do casal. É o oposto do pensamento dos goianos, os que mais acreditam na partilha da responsabilidade.

A pesquisa levou em consideração a opinião de homens brasileiros com mais de 15 anos, sendo que foi utilizado um questionário com 26 perguntas para se chegar aos resultados.

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